quinta-feira, 17 de julho de 2008

Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo ...

E falo-lhes d'amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente ...

Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga,
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m'embriaga

O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que reflectia outrora tantos risos,
E agora reflecte apenas pranto,

E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado...

Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mals fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...

Florbela Espanca

A Estação Primeira de Mangueira, fundada em 28 de abril de 1928 pelos amigos Saturnino Gonçalves, Cartola, Carlos Cachaça, Marcelinho José Claudino (Maçu), Abelardo da Bolinha, Euclides Roberto dos Santos (Seu Euclides), Pedro Caim e Zé Espinguela, comemora seu aniversário de 80 anos.

O Sol Nascerá

Composição: Cartola / Elton Menezes

A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade
Perdida

Fim da tempestade
O sol nascerá
Fim desta saudade
Hei de ter outro alguém apara amar


A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade
Perdida

*******************************

Das Águas do Velho Chico, Nasce Um Rio de Esperança (2006)

Vou navegar...

Na minha Estação Primeira

Nas águas da “integração” chegou Mangueira

Opará... Rio-Mar o nativo batizou

Quem chamou de São Francisco foi o navegador

Na serra ele nasce pequenino

Ilumina o destino, vai cumprir sua missão

Se expande pra mostrar sua grandeza

Gigante pela própria natureza

A carranca na Mangueira vai passar

Minha bandeira tem que respeitar

Ninguém desbanca minha embarcação

Porque o samba é minha oração

Beleza o bailar da piracema

Cachoeiras um poema à preservação

Lendas ilustrando a história

Memórias do valente Lampião

Mercado flutuante, um constante vai-e-vem

Violeiro, sanfoneiro, que saudade do meu bem

O sabor desse tempero, eu quero provar

Graças à irrigação, o chão virou pomar

E tem frutas de primeira pra saborear

Um brinde à exportação, um vinho pra comemorar

O Velho Chico! É pra se orgulhar

O sertanejo sonhou

Banhou de fé o coração

E transbordou em verde e rosa

A esperança do sertão

****************************

Tarde demais...

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...

Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Porque chegaste tarde, ó meu Amor?!...

Florbela Espanca

http://www.buques.com.br/fotos/cinerarias.jpg
http://www.buques.com.br/fotos/clematis_rosa.jpg
http://www.buques.com.br/fotos/cineraria_1.jpg
http://www.buques.com.br/fotos/margaridas.jpg